Radiologia Brasileira - Publicação Científica Oficial do Colégio Brasileiro de Radiologia

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Idioma/Language: Português Inglês

Vol. 50 nº 5 - Set. / Out.  of 2017

CARTA AO EDITOR
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Page(s) 344 to 345



Plasmocitoma pancreático difuso: uma entidade rara

Autho(rs): Camila Soares Moreira de Sousa1; Carla Lorena Vasques Mendes de Miranda1; Marcelo Coelho Avelino2; Breno Braga Bastos3; Ilan Lopes Leite Mendes1

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Texto em Português English Text

Sr. Editor,

Paciente de 50 anos, masculino, com diagnóstico de mieloma múltiplo há 10 meses, em tratamento quimioterápico, após início de quadro de dor abdominal procurou o serviço de urgência e emergência. Exames laboratoriais revelaram discreta elevação das enzimas pancreáticas e, posteriormente, tomografia computadorizada (TC) de abdome total com contraste demonstrou aumento difuso e exuberante do parênquima pancreático, com captação homogênea pelo meio de contraste iodado na fase portal (Figura 1). Inicialmente, pensou-se em pancreatite aguda, porém, não houve melhora clínica, laboratorial e radiológica. Optou-se por se realizar biópsia guiada por TC, que demonstrou, no histopatológico, neoplasia maligna formada por células atípicas pouco coesas, com núcleos hipercromáticos, volumosos e excêntricos, compatível com neoplasia de células plasmocitoides (Figura 2A). Estudo imuno-histoquímico complementar revelou expressão de CD138, associada a monoclonalidade para cadeia leve de imunoglobulina kappa, confirmando o diagnóstico de infiltração pancreática por plasmocitoma (Figura 2B).


Figura 1. Tomografia computadorizada de abdome total, secção axial sem contraste (A) e com contraste fase portal (B) demonstrando aumento difuso e exuberante do parênquima pancreático, com captação homogênea pelo meio de contraste iodado.


Figura 2. A: Histopatológico demonstrando neoplasia maligna formada por células atípicas pouco coesas, com núcleos hipercromáticos, volumosos e excêntricos, compatível com neoplasia de células plasmocitoides. B: Imuno- histoquímica revelou expressão de CD138, associada a monoclonalidade para cadeia leve de imunoglobulina kappa, confirmando o diagnóstico de infiltração pancreática por plasmocitoma.



O mieloma múltiplo é caracterizado por proliferação de plasmócitos malignos originários da medula óssea e representa 10% das neoplasias hematológicas. O plasmocitoma extramedular corresponde a 5% dos tumores de células plasmáticas, com idade média de apresentação em torno de 55 anos e predominância no sexo masculino. Eles podem ser primários, quando ocorrem como massas solitárias sem o envolvimento da medula óssea, ou secundários, como parte do mieloma múltiplo, apresentação mais frequente(1-4). O local mais comum de acometimento extramedular é o trato respiratório superior (80%), porém, outros locais como tratos gastrintestinal e geniturinário, sistema reticuloendotelial, tireoide, pulmões, pele e testículos também podem ser envolvidos(4).

Relatórios de plasmocitoma extramedular afetando o pâncreas são escassos, havendo pouco mais de 25 casos descritos, a maioria com aparência de massa focal e apenas um de infiltração difusa do pâncreas, sendo o nosso paciente o segundo caso relatado na literatura(2-6). A cabeça pancreática é o local mais comum de apresentação, determinando, na maioria dos casos, dor abdominal e icterícia obstrutiva(1-4). Os achados radiológicos de plasmocitoma pancreático não são muito específicos. Na apresentação focal destaca-se massa sólida homogênea ou heterogênea, multilobulada, com realce variável, enquanto na forma difusa o único caso relatado revelou aumento volumétrico difuso do pâncreas com lobulação dos contornos e captação predominantemente homogênea na fase portal, semelhante ao caso aqui referido(1,6).

A TC é o método de escolha para investigação, entretanto, não é possível excluir outras doenças, como adenocarcinoma, linfoma e metástase, sendo o histopatológico fundamental para o diagnóstico(3). No caso ora relatado, com apresentação difusa, as principais hipóteses foram pancreatite e linfoma. Descartou-se linfoma devido ao quadro clínico e laboratorial, que indicava pancreatite como o diagnóstico mais provável. No entanto, com base na história prévia de mieloma múltiplo e persistência dos sintomas, considerou-se a possibilidade de infiltração pancreática por plasmocitoma.

O tratamento para plasmocitoma extramedular envolve a combinação de radiação local, quimioterapia e, em casos selecionados, cirurgia(4).

O plasmocitoma pancreático é uma entidade rara e permanece sendo alvo de muitos estudos. Diante de um paciente com mieloma múltiplo e aumento focal ou difuso do pâncreas, a hipótese de plasmocitoma deve ser considerada, evitando retardo do diagnóstico.


REFERÊNCIAS

1. Hue SS, Azhar R. Plasmacytoma of the pancreas: an unusual manifestation of multiple myeloma. Singapore Med J. 2013;54:e105-7.

2. Smith A, Hal H, Frauenhoffer E. Extramedullary plasmacytoma of the pancreas: a rare entity. Case Rep Radiol. 2012;2012:798264.

3. Hatem M, So B, Gray R, et al. Plasmocytoma presented as pancreatic head mass. Radiol Case Rep. 2015;10:81-7.

4. Pallavi R, Ravella PM, Popescu-Martinez A. An unusual pancreatic mass: a case report and literature review. Transl Gastrointest Cancer. 2014;3:106-10.

5. Hiller N, Goitein O, Ashkenazi YJ. Plasmacytoma of the pancreas. Isr Med Assoc J. 2004;6:704-5.

6. Wilson TE, Korobkin M, Francis IR. Pancreatic plasmacytoma: CT findings. AJR Am J Roentgenol. 1989;152:1227-8.










1. Med Imagem – Radiologia, Teresina, PI, Brasil
2. Hospital de Urgência de Teresina Prof. Zenon Rocha, Teresina, PI, Brasil
3. UDI 24 horas – Radiologia, Teresina, PI, Brasil

Endereço para correspondência:
Dra. Camila Soares Moreira de Sousa
Med Imagem – Radiologia. Rua Paissandu, 1862, Centro
Teresina, PI, Brasil, 64001-120
E-mail: camilasoares__@hotmail.com
 
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