Radiologia Brasileira - Publicação Científica Oficial do Colégio Brasileiro de Radiologia

AMB - Associação Médica Brasileira CNA - Comissão Nacional de Acreditação
Idioma/Language: Português Inglês

Vol. 36 nº 6 - Nov. / Dez.  of 2003

RELATO DE CASO
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Page(s) 389 to 390



Divertículo intraluminal do duodeno: relato de caso

Autho(rs): Evaldo Furtado, Beatriz Ferreira Furtado Machado

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Texto em Português English Text

Descritores: Cisto incluso, Divertículo gigante, Cisto enterógeno do duodeno, Duplicação cística do duodeno, Divertículo intraluminal do duodeno

Keywords: Inclusion cyst, Giant diverticulum, Enterogenous cyst, Cystic duplication, Intraluminal diverticulum

Resumo:
Os autores apresentam um caso de divertículo intraluminal do duodeno em uma paciente de 44 anos de idade, com sintomas escassos e incaracterísticos. O diagnóstico radiológico foi confirmado à cirurgia e houve controle pós-operatório. A anomalia, uma forma rara de duplicação, com diagnóstico radiológico unicamente pelo exame baritado convencional pré-operatório, consiste de uma estrutura em "fundo de saco", revestida de ambos os lados por mucosa normal, projetando-se na luz do duodeno. Após a revisão da literatura, os autores tecem considerações acerca do diagnóstico.

Abstract:
The authors present a case of intraluminal diverticulum of duodenum in a 44-year-old female with poor and uncharacteristic symptoms. The radiological diagnosis was confirmed by surgery. The patient was also followed up after surgery. This anomaly, a rare form of duplication, consists of a "pocket-like" structure lined on both sides by duodenal mucosa projecting into the duodenal lumen.

Endereço para correspondência

 

 

INTRODUÇÃO

O divertículo intraluminal do duodeno é anomalia congênita em sua origem, provavelmente uma forma de duplicação. Somente em 1968 foi relatado por Newman e Nathan um caso com diagnóstico radiológico pré-operatório, em criança(1). A maioria dos casos é achado de autópsia e de material cirúrgico(2-4). É anomalia pouco freqüente, com poucos casos relatados na literatura médica(5). Sinais clínicos e sintomas podem estar ausentes ou ser de pouca intensidade, ou ser os de obstrução intermitente. É causa pouco comum de obstrução duodenal(6). A anomalia consiste em uma formação em "fundo de saco", revestida de ambos os lados por mucosa normal, projetando-se na luz do duodeno(7).

Por ser o duodeno a sede menos freqüente de duplicação do trato alimentar, e em decorrência dos vários tipos de duplicação, o diagnóstico operatório é o mais freqüente(8-10).

O diagnóstico radiológico é feito quando o diafragma duodenal redundante e frouxo forma um fundo de saco que, distendendo-se como um balão, comprime a parede e provoca, secundariamente, uma obstrução parcial. O bolo alimentar é impelido pelo peristaltismo através do óstio ou abertura do diafragma lateral ou terminal e assim acarreta relativo distúrbio funcional(11-13). Em conseqüência, sintomas obstrutivos podem estar ausentes na infância e só vierem a ocorrer na fase adulta, quando o divertículo poderá, pelo aumento de tamanho, ocasionar sintomas dispépticos incaracterísticos, sendo o achado radiológico quase sempre acidental.

 

RELATO DO CASO

Paciente do sexo feminino, 44 anos de idade, melanodérmica, natural de Campina Grande, PB. A paciente foi encaminhada para exame radiológico do esôfago, estômago e duodeno, sem qualquer outra menção no pedido de exame.

Relatava a paciente que há vários anos vinha apresentando, ocasionalmente, sintomas dispépticos variados de curta duração, com sensação de distensão do estômago, empachamento pós-prandial, com dor na "boca do estômago", e às vezes regurgitações, principalmente após a ingestão de farináceos. Não relatava emagrecimento, falta de apetite ou outra alteração.

Ao exame radiológico verificou-se a existência de nítida hérnia do hiato diafragmático. O esvaziamento gástrico iniciou-se em tempo normal. Entretanto, observou-se que o meio de contraste baritado, após atingir a parte média do duodeno, encontrou um obstáculo em fundo de saco, com a presença de intenso peristaltismo de luta. Após permanecer a paciente em decúbito lateral direito e em oblíqua anterior direita por cerca de 30 minutos, o meio de contraste passou por fora da imagem citada, mostrando um outro relevo mucoso, e atingiu assim o duodeno distal e o jejuno proximal, que apresentavam calibre e relevo mucoso regulares.

À observação radioscópica, com intensificador de imagem e circuito de TV, fizemos o diagnóstico e passamos a documentar os achados (Figuras 1, 2, 3 e 4).

 

 

 

 

 

 

 

 

A paciente foi encaminhada ao clínico, com o diagnóstico de divertículo intraluminal do duodeno, e, posteriormente, submetida a intervenção cirúrgica. Segundo o relatório do cirurgião, o duodeno mostrava-se moderadamente dilatado nas suas porções proximais. Feita a abertura do duodeno e aspiração do conteúdo, verificou-se a presença de uma formação do tipo diafragma, com abertura lateral junto à parede medial e com mucosa nas duas faces. Foi então feita ressecção circular em toda a extensão, com retirada completa do diafragma e do saco diverticular.

Cerca de um mês após a cirurgia, a paciente foi reexaminada por nós, quando então verificamos o desaparecimento da imagem anteriormente encontrada, e o trânsito, o relevo mucoso e o calibre do duodeno estavam normais (Figura 5).

 

 

DISCUSSÃO

Do ponto de vista anatomopatológico, é certo tratar-se de uma anomalia congênita. Embriologicamente, a teoria da duplicação é igualmente aplicável para explicar a formação do divertículo intraluminal do duodeno. Esta anomalia é considerada mais uma duplicação do que a formação de um diafragma incompleto distorcido. É de interesse notar que apenas um caso relatado na literatura foi diagnosticado unicamente pelo exame baritado convencional e tratava-se de uma criança.

Entretanto, verifica-se que, em alguns casos, os sintomas iniciaram-se na infância. Nos casos não complicados o diagnóstico radiológico não apresenta dificuldade. O divertículo intraluminal cheio de meio de contraste, nas várias incidências, apresenta-se como uma formação em "fundo de saco" dentro da luz duodenal.

 

REFERÊNCIAS

1. Newman A, Nathan MH. Intraluminal diverticulum of the duodenum in a child. Am J Roentgenol Radium Ther Nucl Med 1968;103:326-9.        [  ]

2. Heilbrun N, Boyden ET. Intraluminal duodenal diverticula. Radiology 1964;82:887-94.        [  ]

3. Thompson NW, Labow SS. Duplication of the duodenum in the adult. Arch Surg 1967;94:301-6.        [  ]

4. Tasu JP, Rocher L, Amouyal P, et al. Intraluminal duodenal diverticulum: radiological and endoscopic ultrasonography findings of an unusual cause of acute pancreatitis. Eur Radiol 1999;9: 1898-900.        [  ]

5. Govaere F, Mortele KJ, Hesse U, Van der Meersch F, Kunnen M. Giant intraluminal duodenal diverticulum: conventional barium study and computed tomography findings. JBR-BTR 2000;83:71-2.        [  ]

6. Pratt AD Jr. Current concepts of the obstructing duodenal diaphragm. Radiology 1971;100:637-43.        [  ]

7. Caffey JAB. Caffey's Pediatric X-ray diagnosis. 9th ed. Chicago: Year Book Med Publ, 1993.        [  ]

8. Wigg AJ, Roberts-Thomson IC. Images of interest. Gastrointestinal: intraluminal duodenal diverticulum. J Gastroenterol Hepatol 1999;14:509.        [  ]

9. Capra S, Casoni S, Billo R, Grazioli S. Intraluminal duodenal diverticulum: report of a case. Radiol Med (Torino) 1997;94:110-2.        [  ]

10. Dailianas A, Spiliadis C, Skandalis N, Rimikis M, Manika Z. Intraluminal duodenal diverticulum. Ital J Gastroenterol 1994;26:357-9.        [  ]

11. Valls C. Intraluminal duodenal diverticulum: radiologic and CT findings. AJR 1993;160:896.        [  ]

12. Busch HP, Geiger G, Simon R, Schworm HD. Intraluminal duodenal diverticulum. Rofo Fortschr Geb Rontgenstr Neuen Bildgeb Verfahr 1990;152: 103-4.        [  ]

13. Soreide JA, Seime S, Soreide O. Intraluminal duodenal diverticulum: case report and update of the literature 1975-1986. Am J Gastroenterol 1988; 83:988-91.        [  ]

 

 

Endereço para correspondência
Dr. Evaldo Furtado. Rua Padre Rolim, 815, conjunto 109
Belo Horizonte, MG, 30130-090
E-mail: sgm@gold.com.br

Recebido para publicação em 19/3/2003
Aceito, após revisão, em 28/4/2003

 

 

* Trabalho realizado na Clínica Radiológica Evaldo Furtado, Belo Horizonte, MG.


 
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