Radiologia Brasileira - Publicação Científica Oficial do Colégio Brasileiro de Radiologia

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Idioma/Language: Português Inglês

Vol. 48 nº 1 - Jan. / Fev.  of 2015

CARTA AO EDITOR
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Page(s) 63 to 64



Pilomatricoma gigante: achados nas sequências convencionais de ressonância magnética e na difusão

Autho(rs): Bruno Niemeyer de Freitas Ribeiro1; Edson Marchiori2

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Sr. Editor,

Homem, 32 anos, apresentava crescimento nos últimos dois anos de lesão pouco dolorosa, firme, localizada na região parietal alta. Em razão da deformidade cosmética, procurou atendimento médico, realizando exames laboratoriais sem alterações e ressonância magnética (RM) (Figura 1) que demonstrou lesão heterogênea, com predomínio de iso/hipossinal em T1, baixo sinal em T2, focos de queda de sinal nas sequências para suscetibilidade magnética e ausência de restrição à difusão. Após administração de gadolínio, observou-se realce exuberante. Estudo histopatológico revelou células basaloides associadas a células fantasmas, com áreas de reação granulomatosa tipo corpo estranho, compatível com pilomatricoma. Realizou excisão cirúrgica, sem recorrência até o momento.



Figura 1. A: Imagem coronal, sequência T2 mostrando tumor na região parietal esquerda com predomínio de hipossinal, com áreas de degeneração cística/necrose de permeio. B: Imagem axial, sequência funcional em difusão não demonstrando áreas de hipersinal. C: Imagem axial, mapa de coeficiente de difusão aparente corroborando a ausência de áreas de restrição à difusão. D: Imagem sagital, sequência T1 pós-contraste mostrando realce exuberante e heterogêneo.



Processos tumorais no crânio, na maior parte das vezes, estão associados a lesões ósseas ou do sistema nervoso central, como pode ser visto em recentes publicações de autores nacionais(1-7). Entretanto, raramente tumores da pele se expressam de forma semelhante.

Pilomatricoma é um tumor benigno raro da pele, originado da matriz do folículo piloso, mais frequentemente localizado na cabeça ou pescoço(8-10), sendo o tumor sólido de pele mais comum em pacientes com menos de 20 anos de idade(9). Pilomatricomas gigantes (> 5 cm) são incomuns e transformação maligna raramente ocorre. Clinicamente, manifesta-se como lesão de crescimento lento, indolor ou pouco dolorosa, podendo associar-se a coloração azulada da pele(11). O diagnóstico definitivo é histopatológico, com tratamento por excisão cirúrgica com margens de 1 a 2 cm, evitando recorrência.

Na RM, a maioria dos pilomatricomas apresenta-se de limites precisos, medindo até 3 cm, com isossinal homogêneo em T1 e baixo sinal em T2, entretanto, há relatos de lesões com estriações com hipersinal do centro para a periferia(8,10,12). Calcificações são comuns e podem não apresentar realce expressivo ou realçar apenas nas áreas de hipersinal em T2, já descritas(8,10,12). O presente caso, além das dimensões incomuns da lesão, com medida de 10,2 cm, apresentou sinal heterogêneo em T1 e T2, com predomínio de iso/hipossinal em T1 e baixo sinal em T2, com áreas de degeneração cística/necrose de permeio, além de focos de queda de sinal nas sequências de suscetibilidade magnética. Após uso de gadolínio, observou-se realce exuberante das porções sólidas. Tais aspectos contradizem o padrão típico de imagem descrito na RM, provavelmente por tratar-se de um pilomatricoma gigante.

Não encontramos na literatura relatos sobre a difusão em pilomatricomas. No nosso caso não observamos áreas de restrição à difusão nas porções sólidas do tumor. Estudos recentes destacam o uso das sequências em difusão na avaliação de lesões de cabeça e pescoço, mostrando que valores do coeficiente de difusão aparente menores que 1,22 × 10-3 mm2/s são sugestivos de malignidade(13). No caso apresentado observou-se valor de coeficiente de difusão aparente de 1,35 × 10-3 mm2/s, corroborando os achados anteriormente descritos. Outras sequências avançadas de RM podem trazer dados adicionais, principalmente na previsão de benignidade e malignidade(14,15).

Concluindo, o diagnóstico de pilomatricoma deve ser considerado em pacientes com menos de 20 anos com tumor na pele, principalmente localizadas na cabeça ou pescoço, não devendo ser esperados os padrões típicos de imagem quando se tratar de um pilomatricoma gigante.


REFERÊNCIAS

1. Werner Jr H. Evaluation of the central nervous system of fetuses and neonates. Radiol Bras. 2012;45(6):v-vi.

2. Sanches P, Yamashita S, Freitas CCM, et al. Chordoid glioma of the third ventricle: a new case report. Radiol Bras. 2012;45:288-90.

3. Coeli GNM, Tiengo RR, Silva AC, et al. Nodular calcified neurocysticercosis with signs of reactivation. Radiol Bras. 2012;45:291-3.

4. Reis F, Schwingel R, Nascimento FBP. Central nervous system lymphoma: iconographic essay. Radiol Bras. 2013;46:110-6.

5. Brandão LA. Primary and secondary lymphoma of the central nervous system. Conventional and functional magnetic resonance imaging findings. Radiol Bras. 2013;46(2):ix-x.

6. Curioni OA, Souza RP, Amar A, et al. Value of PET/CT in the approach to head and neck cancer. Radiol Bras. 2012;45:315-8.

7. Matushita JP, Matushita JS, Simões LAM, et al. Giant cell tumor of the frontal sinus: case report. Radiol Bras. 2013;46:255-8.

8. Hsieh TJ, Wang CK, Tsai KB, et al. Pilomatricoma: magnetic resonance imaging and pathological evaluation. J Comput Assist Tomogr. 2008;32:320-3.

9. Beaman FD, Kransdorf MF, Andrews TR, et al. Superficial soft-tissue masses: analysis, diagnosis, and differential considerations. Radiographics. 2007;27:509-23.

10. Laffan EE, Ngan BY, Navarro OM. Pediatric soft-tissue tumors and pseudotumors: MR imaging features with pathologic correlation: part 2. Tumors of fibroblastic/myofibroblastic, so-called fibrohistiocytic, muscular, lymphomatous, neurogenic, hair matrix, and uncertain origin. Radiographics. 2009;29:e36.

11. Whittemore KR, Cohen M. Imaging and review of a large pre-auricular pilomatrixoma in a child. World J Radiol. 2012;4:228-30.

12. De Beuckeleer LH, De Schepper AM, Neetens I. Magnetic resonance imaging of pilomatricoma. Eur Radiol. 1996;6:72-5.

13. Gonçalves FG, Ovalle JP, Grieb DFJ, et al. Diffusion in the head and neck: an assessment beyond the anatomy. Radiol Bras. 2011;44:308-14.

14. Wang CK, Li CW, Hsieh TJ, et al. Characterization of bone and soft-tissue tumors with in vivo 1H MR spectroscopy: initial results. Radiology. 2004;232:599-605.

15. Costa FM, Vianna EM, Domingues RC, et al. Espectroscopia de prótons e perfusão por ressonância magnética na avaliação dos tumores do sistema musculoesquelético. Radiol Bras. 2009;42:215-23.










1. Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
2. Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil

Endereço para correspondência:
Dr. Bruno Niemeyer de Freitas Ribeiro
Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer - Serviço de Radiologia
Rua do Rezende, 156, Centro
Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 20231-092
E-mail: bruno.niemeyer@hotmail.com
 
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