Radiologia Brasileira - Publicação Científica Oficial do Colégio Brasileiro de Radiologia

AMB - Associação Médica Brasileira CNA - Comissão Nacional de Acreditação
Idioma/Language: Português Inglês

Vol. 49 nº 4 - Jul. / Ago.  of 2016

CARTA AO EDITOR
Print 

Page(s) 275 to 276



Doença de Rosai-Dorfman acometendo fossas nasais e seios paranasais

Autho(rs): Bruno Niemeyer de Freitas Ribeiro1; Edson Marchiori2

PDF Português      

PDF English

Texto em Português English Text

Sr. Editor,

Paciente masculino, 17 anos, apresentou-se com queixas de obstrução nasal, astenia e episódios febris nos últimos três meses. Ao exame físico apresentava linfonodomegalias cervicais e axilares bilaterais e indolores à palpação. Exames laboratoriais revelaram discreta leucocitose e aumento da PCR e VHS. VDRL, monoteste, anti-HIV, sorologias para toxoplasmose e citomegalovírus foram negativas. Tomografia computadorizada (TC) de seios da face mostrou múltiplas imagens arredondadas, de aspecto polipoide, homogêneas, hipodensas, que reduziam a amplitude das fossas nasais, além de velamento das células etmoidais e seios esfenoidais, sem evidência de erosão óssea (Figura 1). Biópsia de linfonodo cervical e de lesões nasais foi negativa para neoplasia e bacilos álcool-ácido resistentes, observando-se infiltrado linfoplasmocitário difuso, histiócitos espumantes e emperipolese. Imunohistoquímica demonstrou positividade para S-100 e CD68 e negatividade para CD1a. Foi feito o diagnóstico de doença de Rosai-Dorfman e iniciou-se corticoterapia, havendo melhora lenta e progressiva do quadro.


Figura 1. A: TC, corte axial sem contraste mostrando velamento por material hipodenso acometendo seios esfenoidais e células etmoidais. B: TC, corte axial sem contraste demonstrando formação polipoide (cabeça de seta), homogênea, hipodensa, localizada na fossa nasal esquerda. C: TC, corte axial janela óssea: observar que não há erosão óssea associada.



A literatura radiológica brasileira vem, recentemente, ressaltando a importância dos exames de TC e ressonância magnética (RM) no aprimoramento do diagnóstico das lesões da cabeça e do pescoço(1–5). A doença de Rosai-Dorfman, também conhecida como histiocitose sinusal com linfonodopatia maciça, consiste numa condição linfoproliferativa rara, benigna, na maioria dos casos autolimitada, caracterizada por linfadenopatia cervical bilateral indolor(6–11), com resolução espontânea em cerca da metade dos casos(7). Existe discreta predileção pelo sexo masculino, acometendo preferencialmente crianças e adultos jovens, com 80% dos casos ocorrendo abaixo dos 20 anos de idade(6). Em aproximadamente 30% a 40% dos casos pode ocorrer acometimento extranodal(6,8,9), sendo mais comum em imunocomprometidos, preferencialmente comprometendo pele, trato respiratório, sistema reticuloendotelial, trato geniturinário e ossos(6,8,9). Linfonodomegalias mediastinal, hilar, axilar e inguinal podem ocorrer, porém são incomuns.

A etiologia é incerta, podendo estar relacionada com alterações da resposta imune e infecções causadas por agentes como varicela zóster e outras viroses herpéticas, Epstein-Barr, citomegalovírus, Brucella e Klebsiella(6,7,9,11).

Exames de imagem como TC e RM são úteis para avaliar a extensão da doença, porém não há características específicas. Quando acomete as cavidades paranasais, geralmente revelamse como massas polipoides, espessamento mucoso, podendo estar associadas ou não a erosão óssea, com acometimento preferencial dos seios maxilares e células etmoidais(9,10). O diagnóstico é estabelecido por estudo histopatológico(8).

O diagnóstico diferencial inclui várias neoplasias malignas linforreticulares, como linfoma, histiocitose maligna e leucemia monocítica, que apresentam características histopatológicas semelhantes, porém nestas estão presentes atipias e evolução rápida e agressiva. Outro diagnóstico diferencial importante é a doença de Kikuchi-Fujimoto, que apresenta quadro clínico semelhante, com linfonodomegalias cervicais, porém, nestes casos, há predomínio pelo sexo feminino e a análise histopatológica mostra uma histiocitose necrotizante(12,13).

Apesar das controvérsias quanto à modalidade terapêutica de escolha e o momento certo do seu início, o tratamento depende da gravidade, podendo ser manejada com observação do paciente em casos brandos até corticoterapia, quimioterapia, radioterapia e cirurgia em casos mais graves(6–11).

Em conclusão, apesar de a doença de Rosai-Dorfman não apresentar características de imagem específicas, deve ser considerada entre as possibilidades diagnósticas em casos de linfonodomegalia cervical bilateral indolor, particularmente em crianças e adolescentes.


REFERÊNCIAS

1. Niemeyer B, Marchiori E. Giant pilomatrixoma: conventional and diffusion- weighted magnetic resonance imaging findings [Letter]. Radiol Bras. 2015;48:63–4.

2. Niemeyer B, Salata TM, Antunes LO, et al. Desmoplastic fibroma with perineural spread: conventional and diffusion-weighted magnetic resonance imaging findings [Letter]. Radiol Bras. 2015;48:266–7.

3. Alfenas R, Niemeyer B, Bahia PRV, et al. Parry-Romberg syndrome: findings in advanced magnetic resonance imaging sequences – case report. Radiol Bras. 2014;47:186–8.

4. Feres MFN, Hermann JS, Sallum AC, et al. Radiographic adenoid evaluation: proposal of an objective parameter. Radiol Bras. 2014;47:79–83.

5. Santos D, Monsignore LM, Nakiri LM, et al. Imaging diagnosis of dural and direct cavernous carotid fistulae. Radiol Bras. 2014;47:251–5.

6. Pinto DCG, Vidigal TA, Castro B, et al. Doença de Rosai-Dorfman como diagnóstico diferencial de linfadenopatia cervical. Rev Bras Otorrinolaringol. 2008;74:632–5.

7. Oliveira CD, Gonçalves ACP, Moura FC et al. Acometimento orbitário na doença de Rosai-Dorfman. Rev Bras Oftalmol. 2011;70:46–50.

8. Pradhananga RB, Dangol K, Shrestha A, et al. Sinus histiocytosis with massive lymphadenopathy (Rosai-Dorfman disease): a case report and literature review. Int Arch Otorhinolaryngol. 2014;18:406–8.

9. Akyigit A, Akyol H, Sakallioglu O, et al. Rosai-Dorfman disease originating from nasal septal mucosa. Case Reports in Otolaryngology. 2015;2015:232898.

10. La Barge DV 3rd, Salzman KL, Harnsberger HR, et al. Sinus histiocytosis with massive lymphadenopathy (Rosai-Dorfman disease): imaging manifestations in the head and neck. AJR Am J Roentgenol. 2008;191:W299–306.

11. Maia RC, Meis E, Romano S, et al. Rosai-Dorfman disease: a report of eight cases in a tertiary care center and review of the literature. Braz J Med Biol Res. 2015;48:6–12.

12. Sah RP, Wilson ME, Seningen J, et al. Relapsing fevers and lymphadenopathy in a young woman. BMJ Case Rep. 2013;2013. pii: bcr 2013200237.

13. Ramkumar A. Kikuchi-Fujimoto disease as a differential diagnosis for cervical lymphadenopathy in India: a case report and review of literature. Indian J Otolaryngol Head Neck Surg. 2011;63(Suppl 1):110–2.










1. Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
2. Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil

Endereço para correspondência:
Dr. Bruno Niemeyer de Freitas Ribeiro
Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer – Serviço de Radiologia
Rua do Rezende, 156, Centro
Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 20231-092
E-mail: bruno.niemeyer@hotmail.com
 
RB RB RB
GN1© Copyright 2024 - All rights reserved to Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem
Av. Paulista, 37 - 7° andar - Conj. 71 - CEP 01311-902 - São Paulo - SP - Brazil - Phone: (11) 3372-4544 - Fax: (11) 3372-4554