Radiologia Brasileira - Publicação Científica Oficial do Colégio Brasileiro de Radiologia

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Idioma/Language: Português Inglês

Vol. 49 nº 6 - Nov. / Dez.  of 2016

CARTA AO EDITOR
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Page(s) 406 to 407



Divertículo da uretra feminina com carcinoma urotelial intradiverticular

Autho(rs): Rodolfo Mendes Queiroz; Paula Puty e Costa; Nara Yamada Fabril de Oliveira; Juliana Alves Paron; Eduardo Miguel Febronio

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Texto em Português English Text

Sr. Editor,

Mulher, 63 anos, negra, queixando-se de dificuldade para urinar e polaciúria. Referiu episódios de disúria e hematúria há oito meses. Fumou por 10 anos e parou há 30 anos. História de três gestações com partos via vaginal e submetida a histerectomia total há 17 anos.

Ressonância magnética pélvica revelou, abaixo da bexiga urinária, formação cística envolvendo a uretra, compatível com divertículo uretral (DU), exibindo em seu interior componente sólido com realce ao meio de contraste paramagnético, sugerindo processo expansivo (Figura 1). A comunicação com a uretra foi bem definida após passagem de sonda vesical. Estudos histológico e imuno-histoquímico após ressecção cirúrgica do divertículo diagnosticaram carcinoma urotelial papilífero intradiverticular.

DUs são mais comuns em mulheres, entre 30 e 60 anos, com prevalência de 0,6–6%(1–8). Alguns estudos descrevem maior incidência em negros(3,4,7). Usualmente, são subdiagnosticados devido ao quadro clínico inespecífico(2,4–6) ou assintomático (até 20% dos casos)(4,8). O terço médio da uretra é mais acometido, sítio usual das glândulas parauretrais ou de Skene, e 96% dos óstios diverticulares se localizam posterolateralmente(1–5,8). A causa adquirida é mais comum, com provável origem em dilatações/abscessos nas referidas glândulas. Outras causas são traumas ou cirurgias(1–5,8). Habitualmente, medem 0,2–1,6 cm(5), podendo ser únicos ou múltiplos, simples ou multiloculados, localmente restritos ou circundantes à uretra (aspecto em "ferradura"), com um ou vários óstios estreitos ou amplos(1,2). Diagnósticos diferenciais incluem cistos cervicovaginais, abscessos, tumores, endometriose uretral, ureterocele ectópica(2,4,5).


Figura 1. RM da pelve. A,B: Imagens de sequências ponderadas em T2, planos coronal e axial, respectivamente, mostrando formação cística envolvendo a uretra e exibindo hipersinal, representando o divertículo, medindo aproximadamente 5,5 × 5,3 × 5,4 cm. Observa-se em seu interior extensa formação expansiva sólida com sinal intermediário. Caracterizou-se o trajeto ureteral após passagem de sonda vesical (setas). C: Imagem de sequência ponderada em T1 caracterizando o divertículo uretral com hipossinal (cabeça de seta). D: Imagem de sequência ponderada em T1 com saturação de gordura, pós-administração de meio de contraste paramagnético intravenoso, demonstrando o realce pela formação expansiva sólida em seu interior, com sonda vesical no interior da uretra (seta).



Os achados clínicos incluem a tríade clássica de disúria (30–70%), dispareunia (10–25%) e gotejamento pós-miccional (10–30%), além de polaciúria ou urgência miccional (40–100%), incontinência urinária (32–60%), infecções urinárias recorrentes (30–50%), hematúria (10–25%), abaulamento na parede vaginal anterior (35%), acompanhado de descarga uretral purulenta à palpação (12%)(1–8). Inflamação crônica e estase urinária nos DUs acarretam complicações(3,4) como cálculos (1,5–10%) e tumores malignos(1–8) (menos de 5% das neoplasias uretrais(4,8), com descrição de menos de 200 casos)(1,2,7,8). As malignidades incluem adenocarcinomas (49–61%), carcinomas de células transicionais (27–30%) e de células escamosas (10–12%)(1–5).

Métodos de diagnóstico por imagem: uretrocistografia miccional – tecnicamente simples, com acurácia de 85%, demonstra preenchimento do divertículo pelo meio de contraste e falhas de enchimento sugerindo cálculos ou tumores, contudo, utiliza agente iodado e pode não caracterizar facilmente DUs com óstios pequenos(1,4,5); uretrografia com duplo balão – acurácia de 90%, mostra achados semelhantes à uretrocistografia e mesmas desvantagens, além de ser invasiva e complexa(1,4,5); ultrassonografia – melhor acurácia pelas vias endouretral (próxima de 100%, entretanto é invasiva) e translabial/transperineal (alta acurácia e baixa invasividade). Caracteriza as formações císticas e possíveis conteúdos sólidos internos vascularizados. No entanto, é examinador-dependente e limitada na avaliação de DUs colabados(1,4,5); tomografia computadorizada – útil na identificação de cálculos e tumores (componentes sólidos e realçantes), entretanto, possui baixa sensibilidade para pequenos DUs(1,4,5); ressonância magnética – método de eleição, tem sensibilidade próxima a 100%, não é invasiva, com ótimo contraste entre os tecidos e discriminação da complexidade das estruturas, caracterizando pequenos DUs e eventuais neoplasias(1,2,4–6,8). Nas sequências ponderadas em T2 os DUs demonstram hipersinal, podendo ser hipointensos se tiverem conteúdo espesso(1,2,4,6). Componentes sólidos tumorais apresentam-se como lesões vegetantes com sinal intermediário em T2 e T1, podendo restringir a difusão, exibindo realce significativo após a administração intravenosa de contraste(1,2).


REFERÊNCIAS

1. Chou CP, Levenson RB, Elsayes KM, et al. Imaging of female urethral diverticulum: an update. Radiographics. 2008;28:1917–30.

2. Chaudhari VV, Patel MK, Douek M, et al. MR imaging and US of female urethral and periurethral disease. Radiographics. 2010;30:1857–74.

3. Tines SC, Bigongiari LR, Weigel JW. Carcinoma in diverticulum of the female urethra. AJR Am J Roentgenol. 1982;138:582–5.

4. Khati NJ, Javitt MC, Schwartz AM, et al. MR imaging diagnosis of a urethral diverticulum. Radiographics. 1998;18:517–22.

5. Hosseinzadeh K, Furlan A, Torabi M. Pre- and postoperative evaluation of urethral diverticulum. AJR Am J Roentgenol. 2008;190:165–72.

6. Dwarkasing RS, Dinkelaar W, Hop WCJ, et al. MRI evaluation of urethral diverticula and differential diagnosis in symptomatic women. AJR Am J Roentgenol. 2011;197:676–82.

7. Ahmed K, Dasgupta R, Vats A, et al. Urethral diverticular carcinoma: an overview of current trends in diagnosis and management. Int Urol Nephrol. 2010;42:331–41.

8. Grimsby GM, Wolter CE. Signet ring adenocarcinoma of a urethral diverticulum. J Surg Case Rep. 2011;2011:2.










Documenta – Hospital São Francisco, Ribeirão Preto, SP, Brasil

Endereço para correspondência:
Dr. Rodolfo Mendes Queiroz
Documenta – Centro Avançado de Diagnóstico por Imagem
Rua Bernardino de Campos, 980, Centro
Ribeirão Preto, SP, Brasil, 14015-130
E-mail: rod_queiroz@hotmail.com
 
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