Radiologia Brasileira - Publicação Científica Oficial do Colégio Brasileiro de Radiologia

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Idioma/Language: Português Inglês

Vol. 50 nº 1 - Jan. / Fev.  of 2017

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Indicações de ressonância magnética da pelve feminina em um centro de referência oncológico

Autho(rs): Patrícia Prando Cardia

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É possível otimizar o atendimento em radiologia a partir de diretrizes que reveem critérios de apropriação e parâmetros técnicos para realização e indicação de exames de imagem. Em artigo publicado neste número da Radiologia Brasileira foram comparadas as indicações propostas pelo Colégio Americano de Radiologia para a realização de exames de ressonância magnética (RM) da pelve feminina, com as de um centro de referência oncológico nacional(1). Os resultados obtidos são compatíveis com os apresentados pela renomada instituição americana e demonstram que a maioria das pacientes teve adequada indicação para a realização do exame (76,7%). As principais indicações encontradas pelos autores foram: avaliação da recorrência tumoral após ressecção (25,9%), detecção e estadiamento de neoplasias ginecológicas (23,3%) e avaliação de dor ou massa pélvica (17,1%).

A RM tem seu papel definido no estudo da pelve feminina após a avaliação inicial pela ultrassonografia, o que é amplamente demonstrado na literatura(2,3). Quando o exame é indicado no contexto clínico adequado, as características inerentes relacionadas ao método (sua capacidade multiplanar, possibilidade de diferenciação tecidual dos orgãos pélvicos e ausência de radiação ionizante) superam as suas desvantagens (maior tempo de execução do exame, possíveis artefatos de movimento, menor disponibilidade e maior custo, quando comparados à tomografia computadorizada).

Como observado pelos autores do trabalho citado(1), uma das principais indicações do método é a utilização da RM para diagnóstico ou controle oncológico de lesões primárias ginecológicas. Em relação às lesões primárias uterinas, a técnica de difusão facilita a identificação das lesões tumorais do corpo e colo do útero(4). A utilização da difusão também auxilia o reestadiamento dessas lesões após tratamentos quimioterápico e radioterápico e permite a identificação de lesões tumorais residuais/recidivadas. Esses diagnósticos costumam ser desafiadores, uma vez que alterações actínicas e fibróticas, características desses tratamentos, alteram a morfologia habitual dos órgãos pélvicos(5,6).

Ainda no campo oncológico, a RM é frequentemente utilizada para a avaliação de lesões anexiais consideradas "indeterminadas" ao estudo ultrassonográfico(2,7). Inicia-se a interpretação da RM caracterizando a origem da lesão pélvica como ovariana ou extraovariana. Especificamente, quando definida a origem ovariana, prossegue-se com a caracterização das lesões complexas mediante avaliação de componentes sólidos, projeções papilares, septações e vascularização intralesionais. Foram propostos, recentemente, critérios para pontuação desses achados que, somados às informações obtidas nas sequências de difusão e no estudo dinâmico após administração de meio de contraste intravenoso, permitem presumir critérios de malignidade(8).

Fora dos centros oncológicos, a RM é geralmente solicitada para avaliação das doenças benignas da pelve feminina, conforme citado pelo Colégio Americano de Radiologia(9). O estudo da vagina, a caracterização das lesões uretrais e periuretrais, a avaliação das malformações mullerianas e, principalmente, o estudo da miomatose, adenomiose e endometriose pélvica, constituem as principais indicações de exames na prática diária desses centros diagnósticos(10–13).

A avaliação dinâmica do assoalho pélvico, por meio dos exames de defeco-RM, vem substituindo o estudo de defecografia e, cada vez mais, coloproctologistas valorizam os achados demonstrados pela RM, pois as informações obtidas vão muito além da avaliação anatômica dos órgãos pélvicos, com a caracterização de retoceles, enteroceles, invaginação anorretal e anismus(14).

Tratando-se da RM em pacientes gestantes, a segurança para o feto na realização do exame após o primeiro trimestre fortalece a indicação do método na avaliação das complicações relacionadas à gravidez e às doenças intercorrentes da gestação(15,16).

Considerando os aspectos apresentados, pode-se concluir que as indicações para a realização de RM da pelve feminina compreendem um amplo espectro de condições benignas e malignas, em contextos clínicos já bem estabelecidos, em âmbitos nacional e internacional. Em nosso meio, a validação de diretrizes internacionais propostas por entidades radiológicas reconhecidas fortalece o valor dessas informações. Além disso, permite sua maior disseminação, já que o radiologista também tem o papel de orientar a comunidade médica sobre a adequada indicação dos métodos de imagem.


REFERÊNCIAS

1. Boaventura C, Rodrigues DP, Silva OAC, et al. Evaluation of the indications for performing magnetic resonance imaging of the female pelvis at a referral center for cancer, according to the American College of Radiology criteria. Radiol Bras. 2017;50:1–6.

2. Chilla B, Hauser N, Singer G, et al. Indeterminate adnexal masses at ultrasound: effect of MRI imaging findings on diagnostic thinking and therapeutic decisions. Eur Radiol. 2011;21:1301–10.

3. Sala E, Wakely S, Senior E, et al. MRI of malignant neoplasms of the uterine corpus and cervix. AJR Am J Roentgenol. 2007;188:1577–87.

4. Nougaret S, Tirumani SH, Addley H, et al. Pearls and pitfalls in MRI of gynecologic malignancy with diffusion-weighted technique. AJR Am J Roentgenol. 2013;200:261–76.

5. Papadopoulou I, Stewart V, Barwick TD, et al. Post-radiation therapy imaging appearances in cervical carcinoma. Radiographics. 2016;36:538–53.

6. Jeong YY, Kang HK, Chung TW, et al. Uterine cervical carcinoma after therapy: CT and MR imaging findings. Radiographics. 2003;23:969–81.

7. Guerra A, Cunha TM, Félix A. Magnetic resonance evaluation of adnexal masses. Acta Radiol. 2008;49:700–9.

8. Thomassin-Naggara I, Aubert E, Rockall A, et al. Adnexal masses: development and preliminary validation of an MR imaging scoring system. Radiology. 2013;267:432–43.

9. American College of Radiology. ACR–SAR–SPR practice parameter for the performance of magnetic resonance of imaging (MRI) of the soft-tissue components of the pelvis. Reston: American College of Radiology; 2015.

10. Troiano RN, McCarthy SM. Mullerian duct anomalies: imaging and clinical issues. Radiology. 2004;233:19–34.

11. Cardoso MM, Werner Jr H, Berardo PT, et al. Evaluation of agreement between transvaginal ultrasonography and magnetic resonance imaging of the pelvis in deep endometriosis with emphasis on intestinal involvement. Radiol Bras. 2009;42:89–95.

12. Ferreira DM, Bezerra RO, Ortega CD, et al. Magnetic resonance imaging of the vagina: an overview for radiologists with emphasis on clinical decision making. Radiol Bras. 2015;48:249–59.

13. Novellas S, Chassang M, Delotte J, et al. MRI characteristics of the uterine junctional zone: from normal to the diagnosis of adenomyosis. AJR Am J Roentgenol. 2011;196:1206–13.

14. Brandão AC, Ianez P. MR Imaging of pelvic floor: defecography. Radiol Clin N Am. 2013;21:427–45.

15. Masselli G, Brunelli R, Casciani E, et al. Acute abdominal and pelvic pain in pregnancy: MR imaging as a valuable adjunct to ultrasound? Abdom Imaging. 2011;36:596–603.

16. Manikkavasakarb S, Ramachandram A, Ramalho M, et al. Malignant uterine disease with concurrent myometrial contraction at MRI: a possible source of overstaging. Radiol Bras. 2016;49:340–2.










Médica Radiologista do Centro Radiológico Campinas/Hospital Vera Cruz e do Hospital e Maternidade Celso Pierro da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC Campinas), Campinas, SP, Brasil. E-mail: pprando@diagnostiqueimagens.com.br
 
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